sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

O dilema dos papa-açorda

Decretou-se o luto na congregação: finara-se a tachada de cozido à portuguesa que mobilizara tantas devoções palatinas. Grande foi a consternação dos acólitos, grande a choradeira pelas vielas do burgo.
Reuniram-se em conselho gastronómico os maiorais do culto, a fim de escolher sucessor. Mas, seis horas depois, ainda se não chegara a consenso.
A especulação incendiava os noticiários televisivos, transbordava das colunas dos jornais e monopolizava as conversas de café. A que se deveria tal impasse? Porque sim, porque não, porque talvez - arriscavam uns e outros.
Finalmente, depois de acesas discussões, dos embates entre as diversas facções, de difíceis e aturadas negociações, do fogão em que os maiorais haviam acabado de preparar uma especialidade culinária, saiu o tão esperado fumo branco. E alguém constatou: temos papa! A escolha havia sido unânime: um borbulhante e cheiroso tacho de açorda ocupava agora o centro das atenções.

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