quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

A vingança do guardanapo


Um guardanapo alvo e engomado foi admitido como agente da Guarda. O comandante do posto, um esfregão grosseiro e insolente, achava que o guardanapo era demasiado fino para o exercício daquelas funções e estava sempre a implicar com ele.
- Olhe lá, você não será antes um guarda-nabo? Isto aqui é para gajos de barba rija. E quando as coisas não vão a bem, vão mesmo à bruta. Como é que você, um engomadinho do caraças, vai fazer valer a sua autoridade, se nem pêlo tem na venta, hã?
O pobre guardanapo ficava humilhadíssimo com estes comentários boçais, mas engolia em seco e permanecia em silêncio. É que ele, quando se enervava, gaguejava descontroladamente. E imaginava o vexame que passaria se descobrissem nele aquilo que seria considerado como mais uma fraqueza.
Foi ouvindo, foi engolindo, foi enchendo, mas aguentava-se estoicamente, fingindo que fazia orelhas moucas às provocações do sargento esfregão… embora, por dentro, ficasse a ferver.
Numa tarde de pouco movimento - estava o posto cheio de agentes - ao ouvir mais uma série de ordinarices do comandante, não aguentou mais e rebentou.
- Vá-vá-á lim-lim-limpar la-latrinas, seu-seu la-lateiro.
Atirou o bivaque para cima do balcão de atendimento e saiu porta fora. O resto da corporação ria perdidamente.
- Ó pá! O gajo não é só engomadinho, também é gago - dizia um escovilhão lambe-botas.
- Pois. É um engo-gugu-mamadinho - respondeu outro.
- Eu é que tinha razão. É um verdadeiro guarda-nabo - rematou o comandante.
Mas cá se fazem, cá se pagam! Quando o esfregão chegou a casa, ao fim do dia, ia tendo um chilique. A mulher, uma bela toalha de bilros, tinha feito as malas e fugira para o Brasil com o guardanapo.

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