quinta-feira, 20 de novembro de 2008

O anúncio


Tudo quanto é profissional da «calhandrice» nacional estava a postos para o anúncio.
A reunião dos carnívoros continuava para lá da hora anunciada e só após o seu termo a comunicação teria lugar. Até as moscas se impacientavam nos cafés, zumbindo, neuróticas, acima das melenas dos clientes. E o raio do anúncio que nunca mais vinha…
Nas cantinas, bares e restaurantes da populaça ou nos esconsos das cozinhas domésticas faziam-se vaticínios e apostas. A velha truta cínica e dura seria refogada em molho de vinho branco… Não, diziam alguns, seria assada ao natural ou frita em azeite virgem. Seria estufada ou cozida, apostavam outros.
Embora com opiniões tão diversas sobre a metodologia a adoptar, muita gente achava possível um «happy end» culinário que desse fim à prosápia de tão incómodo ser.
Engano deles. Quando, finalmente, o anúncio chegou, todas as expectativas caíram por terra. Nem refogada, nem assada, nem frita, nem estufada, nem cozida. A velha truta cínica e dura ia continuar a dar à barbatana no tal riacho de montanha onde era rainha e senhora.
Pois é, esqueciam-se que os carnívoros são obstinados e calculistas e apreciam outras iguarias: preferem ferrar a dentuça no pescoço dos animais de sangue quente.

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