segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O Castelo das Palavras


Castelo de Newschwanstein, na Baviera, Alemanha.
No Castelo das Palavras, havia salas onde se guardavam todos os tipos de palavras. A Sala das Palavras Macias tinha palavras como «peluche», «espuma» e «almofada», mas também «carícia», «beijo», «mãe» e outras do género. A Sala das Palavras Ancestrais tinha palavras como «mundo», «fonte» e «nascimento». A Sala das Palavras Magoadas tinha palavras como «ausência», «lágrima», «fome» ou «solidão». Mas havia também a Sala das Palavras Terríveis, onde se guardava a mais terrível de todas: «morte».

Resposta ao desafio nº 16 do blogue 77palavras.blogspot.pt de Margarida Fonseca Santos.

domingo, 19 de agosto de 2012

A saga do tio Arlindo - Aventura no café Paris


1. O tio Arlindo andava intrigado com a faina do Lopes. Ora entrava carregado de caixas, ora saía cheio de sacos. Pôs-se nas suas tamanquinhas e foi ao café Paris, investigar a coisa.
 
2. No café Paris, ele bem perguntou pelo Lopes. Que não, que ainda não tinha entrado lá naquele dia. Pasmado, o tio Arlindo coçava a cabeça. Estava a começar mal, aquela investigação.
 
3. Ao sair do café Paris, o tio Arlindo viu o vulto do Lopes abandonando a mercearia do Brites e entrando numa carrinha da Panrico. «Que estranho!», pensou. O mistério adensava-se.
 
4. No outro dia, o tio Arlindo chegou cedo ao café Paris. Lá estava a carrinha da Panrico, mas… o tal vulto não era o Lopes. O tio Arlindo percebeu então que tinha de passar a usar óculos.

[Participação no desafio 21 da página «Escrita de Microficção». Tema: « Investigação em Paris».]  

Homem de palha



Às vezes, no meio do campo, um homem de palha botava discurso às aves esquivas. Exaltava a solidez da sua morada permanente, com ampla vista sobre o mundo circundante. O pé bem fixo na terra tornava-o forte, temido, imune ao sobressalto das estações. Ali, onde estava, vigiava o próprio ciclo da vida e da morte. Arrogava-se, por isso, Senhor do Tempo.
Mas as aves não o ouviam. Bastava-lhes abrir as asas e o mundo era todo delas.

Resposta ao desafio nº 15 do blogue 77palavras.blogspot.pt de Margarida Fonseca Santos. Frase inicial retirada do «Romance da Raposa», de Aquilino Ribeiro. 

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

O cão do faroleiro


Pertenciam ambos a mundos diferentes. E havia a diferença de idades: 14 e 41.
Conheceram-se na ilha Berlenga.
Caminhava ele na enseada deserta e ela provocou-o com uma chapada de água.
Um simples olhar deflagrou em amor súbito. Mas não podiam…
- Sou muito velho – disse ele –. Já tenho 14 anos.
- Eu ainda sou jovem – respondeu ela –. Tenho 41.
Ele ladrou e correu escarpa acima.
Ela bateu a grande barbatana e partiu mar adentro.